cinco anos de fado na Mouraria

Apenas um mês antes de que o fado fosse declarado património imaterial da humanidade, os fadistas Sara Tavares e Ricardo Ribeiro apresentaram-se no Largo da Severa, no coração da Mouraria, para oferecer um concerto que sinalizaria o arranque das obras de requalificação urbana de um dos  bairros mais castiços de Lisboa.  Aliás, aquela noite fresca de Outubro de 2011 sinalizaria também a “volta” das sonoridades do fado ao bairro que o viu nascer. Elevado a “marca identária incontornável do bairro da Mouraria” dentro do plano de acção QREN-Mouraria, o fado e as  prácticas sociais e culturais associadas a ele tornou-se num agente fundamental do processo de regeneração urbana.

Durante os últimos cinco anos, Iñigo Sánchez, investigador do Instituto de Etnomusicologia da Faculdadade de Ciências Sociais e Humanas (Universidade Nova de Lisboa), tem documentado  este revival do fado nos espaços públicos e semi-públicos do bairro da Mouraria, um processo que tem decorrido em paralelo a dinâmicas mais alargadas de transformação urbana, de patrimonialização das práticas expressivas e de turistificacão dos espaços urbanos da cidade de Lisboa.


Foto 1. O processo de requalificação urbana da Mouraria multiplicou ao longo destes anos os eventos relacionados com o fado nos espaços públicos e semi-públicos do bairro. Na imagem, festa de homenagem ao Fernando Mauricio. Julho de 2012.


Foto 2. O fadista Arturo Batalha na primeira edição das Visitas Cantadas à Mouraria, iniciativa do Museu do Fado em colaboração com a associação Renovar a Mouraria, que visava trazer novos públicos ao bairro. Ao fundo, as obras na casa onde se diz que viveu a Maria Onofre, conhecida popularmente como a Severa, transformada hoje numa casa de fados.  Agosto de 2012.


Foto 3. Um grupo de turistas atende às explicações de um guia em torno ao busto do fadista Fernando Mauricio, nascido no bairro da Mouraria. A histórica reivindicação vicinal da figura do fadista, conhecido dentro do universo do fado como o “rei do fado sem coroa”, foi finalmente atendida com a inauguração de um busto em homenagem ao Fernando Mauricio no Largo da Guia em Julho de 2014. Setembro de 2015.


Foto 4. Desde finais de 2013, a Mouraria conta com a sua própria escola de fado, localizada nas instalações do Grupo Desportivo da Mouraria, e pela que tem passado ao longo destes anos quase 200 estudantes nas disciplinas de canto, guitarra portuguesa e viola de fado. Na imagem, alunos da escola atuam nos  Amigos da Severa, provavelmente a taverna mais antiga do bairro e autêntico santuário do fado. Março de 2014.


Foto 5. A nova identidade da Mouraria como bairro “fadista” ficou fixada nas paredes das suas ruas e becos através de uma série permanente de retratos de fadistas vinculados, de uma forma u outra, ao bairro, obra da fotógrafa Camilla Watson. Na fotografia, retrato da fadista Ana Mauricio na Rua João de Oteiro. Agosto de 2015.


Foto 6. Desde a década de 1950, o Grupo Desportivo da Mouraria organiza de forma regular sessões de fados nas suas diversas sedes. Na imagem, dirigentes da colectividade mais antiga do bairro arrumam os quadros do salão nobre da sua sede atual, no Palácio dos Távora, conhecido como “A Catedral do Fado”. Maio de 2013.


Foto 7. O fadista da corrente  “mauriciana” Fernando Jorge numa  das matinés de fados na sede do Grupo Desportivo da Mouraria. Ao fundo, a imagem do seu maestro, Fernando Mauricio, preside a sala principal da colectividade. Maio de 2014.


Foto 8. Actualmente, as sessões de fado no Grupo Desportivo da Mouraria decorrem no domingo à tarde e prolongam-se durante várias horas. Entre o público, entusiastas deste género musical, amigos da colectividade e vizinhos do bairro. Na imagem, Tony Loretti, que organiza atualmente  as sessões de fado na colectividade.  Novembro de 2015.


Foto 9. As tardes de fado no Grupo Desportivo da Mouraria são um espaço de convívio para os aficionados a este género da música popular portuguesa. Outubro de 2012.


Foto 10. “Silêncio, que se vai a cantar o fado”. Grupo Desportivo da Mouraria. Dezembro de 2012.


Foto 11. As boas condições acústicas da sala principal da sede do Grupo Desportivo da Mouraria, a iluminação ténue e o respeito do público perante os fadista, faz com que estes podam dar rédeas as suas emoções. Junho de 2013.


Foto 12. O fadista Pedro Galveias brinca com duas crianças do bairro antes de dar começo a sua actuação  durante uma das Visitas Cantadas à Mouraria. Setembro de 2012


Foto 13. Sacos com alimentos amontoam-se nas instalações do recentemente inaugurado museu “Fernando Mauricio”. Os alimentos foram recolhidos durante uma gala de fado solidário organizada pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior em colaboração com os vizinhos da Mouraria e que decorreu na  na rua João de Oteiro. Setembro de 2016.


Foto 14. O fado é um tema de inspiração recorrente para a marcha da Mouraria. Na imagem, detalhe do elemento central da marcha do ano 2016, uma enorme guitarra portuguesa que serviu de palco para os padrinhos da marcha, os fadista Joana Amendoeira e Hélder Moutinho.  Setembro de 2016.


Foto 15. Durante o inverno de 2012, a associação Renovar a Mouraria dinamizou as tascas e restaurantes do bairro com a iniciativa “Há fado nas tasquinhas e restaurantes da Mouraria”. Na fotografia, actuação numa das tascas emblemáticas do bairro: “A Parreirinha”. Dezembro de 2012.


Foto 16. Além de emblema identitário do bairro e motivo de orgulho para os seus habitantes, o recurso ao fado pode funcionar também como reclamo comercial. Na fotografia, empreendimento imobiliário na Praça do Martim Moniz. Junho de 2012.


Foto 17. Vista do renovado Largo da Severa durante uma Visita Cantada com a fadista Carla Arruda. Agosto de 2016.

Foto 18. Maria da Mouraria foi a primeira casa de fados que abreu as suas portas no bairro em décadas. Dezembro de 2016.


Foto 19. Para que o fado aconteça nos diversos eventos que tem lugar no bairro é preciso contar com a participação, em muitas ocasiões desinteressada, dos fadistas. Na imagem, elenco de fadistas que participaram numa recente sessão de fados na Mouraria. Setembro de 2016.


Foto 19. Para que o fado aconteça nos diversos eventos que tem lugar no bairro é preciso contar com a participação, em muitas ocasiões desinteressada, dos fadistas. Na imagem, elenco de fadistas que participaram numa recente sessão de fados na Mouraria. Setembro de 2016.


[Originally published at www.ofado.pt]